NÃO-ME-ESQUEÇAS
- Cupim
- 22 de mar.
- 1 min de leitura
Maria Emanuelle Cardoso

I.
estás assim em meu quintal: densamente perto,
mansamente selvagem
ronronando com pulmão-bicho-filhote
e esses grandes olhos
papalionáceos
vens a passo de lagarta
lambe o mormaço salmão fúcsia
e às vezes contempla
o esmorecimento dos besouros
quando o sol torna-se rouco
costuma brincar
como em sua ontogênese
inseto-gente, também há tristeza nas calêndulas
mas os caules que assim verde abacate se retorcem
são sinais de fé: os beijinhos rosas.
II.
também tu atiras as bonecas de pano
através da anatomia dos parapeitos
não há de temer o centro da terra
também tu és queda
também tu és chão.
III.
tudo que nasce jorra sangue.
IV.
o polvo azul
come as panelas de tomates verdes
o álcool na lata de milho verde
também prestes a se esgotar.
V.
ainda que o sol estivesse sonolento
as cores eram curiosas em suas orelhas.
VI.
colocar água e preces na kalanchoê amarela
colocar colírio nos olhos de fim de mês.
VII.
comprei pães de doce com coco e tangerinas
na loja de mantimentos da dona Vermelha
nas segundas-feiras elas estão esplêndidas
um laranja surrealista num curta de imidacloprido
acho que acabou a compota de mamão verde.
mas tem amoras frescas.
VIII.
os vales respiram curto como a gente
a expiração é o ápice
a inspiração o declínio.
Maria Emanuelle Cardoso nasceu em 15 de novembro de 2000 em Montes Claros, Minas Gerais. Possui textos publicados em antologias e revistas. Formada em biologia, pesquisa em Etnoecologia no mestrado. "amarelo mostarda" é seu livro de estreia.
Ilustração: Douglas Ferreira
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