Por Fernanda Maia
Por que escrevo?
Porque sou pouca e
mínima embora
vária, porque não
me basto, escrevo
para compensar a
falta, porque não
quero ser só raiz e
haste e preciso do
outro para dar
sombra e fruto.
Comunhão, Olga Savary
Em 31 de agosto de 2016 a primeira presidenta do Brasil sofreu um golpe que a destituiu de seu cargo político. Enquanto isso, eu saía do norte de Minas e me dirigia ao Rio de Janeiro para encontrar a poeta Olga Savary. Durante meses trocamos cartas e nos telefonamos, chegavam pelo correio envelopes grandes com fita isolante e muitos poemas, cuidadosamente selecionados por ela. Uma geminiana, paraense, nascida em 1933, vive a escrita, a leitura e a solitude em seu apartamento, é uma mulher selvagem.
O encontro foi uma imersão na escrita e na figura da poeta, ficamos dois dias em seu apartamento em Copacabana, cercadas por muitos livros, papéis e retratos. Muitos retratos por todas as paredes, tudo compunha o cenário em que ela me recebeu tão generosamente. Conviver no processo deste filme me fez pensar: o que é um escritor? O que é uma mulher escrevendo? Quais os diversos modos de ler este corpo no texto? Quais são, afinal, os tantos corpos mutantes que a poesia carrega?
Essa profusão de acontecimentos e questões nortearam a montagem da entrevista, uma correspondência entre quem fala e quem ouve atentamente, compor uma sobrevivência quando tudo aponta para um desaparecimento.
Fernanda Maia é nascida em Montes Claros - MG (1994), formada em Letras e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual de Montes Claros. É professora na zona rural de Diamantina (MG), trabalha com escrita, ilustração e audiovisual. Convive com plantas e se interessa por pensar imagem e poema.
Ilustração: Marco Marinho
vale o pleonasmo de "rever de novo" [rsrsrs]
Este vídeo de Olga Savary, que preciosidade! Estou vendo pela 2a vez e, com certeza, hei de rever de novo!
Penso que foi um rico privilégio Fernanda essa imersão sua. Excelente homenagem!