2, 19, 27, 29
- Cupim
- 22 de set. de 2024
- 1 min de leitura
Álvaro Andrade

2.
você que me lê que deixa
minha palavra entrar por
olhos ouvidos mãos
atravessar seu corpo talvez até
sair outra vez por mãos
boca, só você sabe
o sabor que ela
de sua horta
evoca, a palavra
é o oco que nos sustenta
eco que nos provoca
chave e fechadura
elo entre parede e porta
a palavra é a candura
de todas as coisas duras
e prole das coisas moles
é o que perdura enquanto
tudo se sacode, a testa
na marrada do bode
e na
sabedoria do pobre
é na palavra
que a mão se apoia, a palavra
é o que nos acode é a atadura
da tipoia e no mar
mexido da confusão
ou no mar calmo do entendimento
é ela que flutua a boia
19.
do rascunho também
algo se perde
perde-se a hora do cinema
logo pela manhã
pele e cabelo
todos os dias
bem agora
perco na memória
como esse poema seguiria
27.
ver esse amor morrer
é como ver nascer um passarinho
no coração de uma lâmpada
29.
vejo a copa de uma árvore
da minha nova janela. sigo
mapeando passarinhos
Álvaro Andrade é poeta, diretor e roteirista, formado em Jornalismo pela UFBA e Mestre em Comunicação pela UFMG. Dirigiu a série Cine Barato (2018) e filmes como 10-5-2012 (2014) e A Nova Melancolia (2017). Foi responsável pela organização e curadoria das mostras Joel Zito Araújo – Uma década em vídeo [1987-1997] (2021/ 2024). E tem poemas publicados em postal, blogs, livros de amigos e redes sociais.
Ilustração: Douglas Ferreira
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